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Sorín, seu clube, sua cidade, sua gente…

Salve Nação Celeste!!!

O Mês de Maio reserva emoções históricas ao torcedor celeste.

Algumas delas remetem ao Pássaro Azul.

Magrelo, cabeludo, peladeiro, argentino.

Vários ingredientes para que esse vôo pudesse dar errado.

Mas ao invés de repetir alguns estrangeiros que não marcaram aqui seu nome, JUAN PABLO SORÍN optou por preencher com raça todas essas lacunas.

E fez virar qualidade todas essas alcunhas:

– Sabe aquele argentino magrelo cabeludo, peladeiro? Raçudo demais!

Sorín completou mais um aniversário nesse dia 05 de Maio.

No dia 12 de Maio contemplamos o título da Sul-Minas. Seria um título comum, um interestadual pequeno e inexpressivo ante nossa vasta galeria de troféus; mas veio sob a ágide da mais clara expressão dessa citada raça de Sorín!

Sorín foi protagonista nesse jogo do começo ao fim.

O supercílio rachado no começo da partida; a insistência em não sair de campo.

O gol do título já no terço final do jogo.

E a despedida, a primeira diante da nossa torcida, emocionado abraçado à sua Mãe.

Vejam o que ele escreveu:

“15:58 h. – Banderas em tu corazón

Setenta e cinco mil caras esperando ver o Cruzeiro campeão.

Saímos rodeados de mascotes e crianças, que nos acompanham sempre com um sorriso. Pegamos forte e corremos para o gramado.

Uma olhada rápida, mãos para o alto e as primeiras emoções. Não é comum e é até anormal muitas camisas argentinas, celestes e brancas, no Brasil todas sentimentalmente distinguíveis.

Chegam as placas de homenagem.

Primeiro, do presidente.

Depois, da Máfia Azul e logo uma camisa inesquecível com o meia dúzia nas costas, assinada por todos os funcionários do clube.

A melhor homenagem, da cozinheira ao roupeiro, os encarregados da limpeza, até meus colegas, médicos, técnicos…

Vale ouro!

Vale mais suor ainda!

Sorteio a moeda da Fifa, e? Deu branco e ganhei.

No segundo tempo, atacaremos junto ao grosso da nossa torcida. Antes de começar toca o hino brasileiro. Todos cantam e eu não. Procuro minha companheira e concentro-me em silêncio. Observo a torcida e na arquibancada há uma bandeira argentina. Que orgulho!

Não posso acreditar.

Onde estão meus amigos do bairro para contar-lhes?

Jogam balões para os céus com meu rosto estampado numa bandeira vertical.

É minha despedida, a partida final. Contenho as lágrimas, soa o apito.

16:20 h. – Sarando as feridas

Meu Deus! Um choque forte, toco a sobrancelha.

Sangue. Puta que pariu! De novo?

Quarto corte na cabeça em dois ano e meio. Queria jogar e o juiz reserva “canarinho” disse-me que não! Quase que pede a minha substituição e disse que há muito sangue.

Peço-lhe por favor.

Hoje, não me deixes de fora, irmão!

Ele não entende bem, mas me permite entrar e lá vou eu como um “Papai Smurf”.

Serão seis pontos no intervalo, 0 a 0, com uma bola na trave e um susto forte.

17:40 h. – Oh meu pai, eu sou Cruzeiro meu pai…

Tira a camisa! Tira a camisa!

Parece uma bola perdida, mas sei que o Ruy vai ganhá-la.

O “cabeção”, meu amigo e parceiro de quarto, vai tocá-la por um lado e buscá-la pelo outro (fez uma gaúcha, berra o locutor). Entra na área e só rola para trás.

Não sei o que faço aí, a não ser confiar nele.

Não sei o que faço senão ir além do sonho da despedida e não há tempo prá pensar.

Com três dedos e meio esquisitos de prima, com a sempre canhota bendita e a rede se mexe, é o mundo que explode, vem o delírio, a festa…

Não pode ser real.

As cabecinhas que pulam descontroladas, a camisa voando na mão e um grito eterno, inesquecível, uma dança especial.

17:55 h. – Ah, eu tô maluco! Bi cam-pe-ão!

Faltam segundos e não existe sensação comparável como a de ser campeão. Nos olhamos cúmplices com o Cris e rimos da conquista depois do esforço.

Somos irmãos, somos um punhado azul de raça inquebrável, enquanto o pessoal na arquibancada baila, grita, goza e por fim estoura com o final.

Escuta-se um estrondo inconfundível.

Um abraço, dois, um milhão, a correria perdida, louca, entre pulos, festejos com cada companheiro, Toninho, Valdir, Tita e Bolinha, todos malucos.

De repente um cara me leva nas costas e damos a volta olímpica.

Não quero que isso termine e penso se pudesse parar o tempo nesse instante, mas não posso.

E aí, vou dando-me conta que também é o final para mim; que estou indo embora do meu time, da minha cidade, da minha gente.

Então a emoção vem enorme e como sempre, desenfreado, sem limites, como se fosse a última vez.

Comemoro e cumprimento cada canto do maravilhoso Mineirão.

Despeço-me e quero abraçar a todos.

Quero que dêem a volta conosco, quero dizer-lhes que eles não sabem como necessitamos de todos aqui dentro.

Vejo faixas e ainda não acredito.

Vejo os rostos de alegria e até hoje nada sai da minha mente.

Depois de tudo, a surpresa com a presença de minha mãe exatamente no Dia das Mães e é impossível não chorar.

Finalmente, recebo a Copa tão desejada. É bonito ser campeão.

É grandioso ser capitão do Cruzeiro e ser campeão.

Levantamos a taça, desfrutamos e saímos a oferecer aos milhares que estavam por todas as partes até o cansaço.

Imagino Minas.

Imagino BH.

Tudo se acaba e não podia ser tão perfeito.

Será que sonhei?

Nem um sonho seria tão incrível.

Estou partindo e pensando se algum dia eu serei tão feliz!”

Esse jogo é icônico; ali Sorín ganhava o dourado e cada vez mais raro carimbo de ÍDOLO!

Viriam mais vezes.

Duas voltas ao Cruzeiro.

Outras duas despedidas.

E ele escolheu encerrar sua linda carreira aqui.

Podia ser nos gigantes PSG ou Barcelona; podia ser no seu pátrio e amado River Plate.

Mas Sorín decidiu se despedir da pelota aqui, junto da sua cidade, do seu time.

Junto da sua gente!

Depois pintou a barba de azul como um de nós.

Brigou com a imprensa e torcida rival, igualzinho nós faríamos.

Nós somos sua gente, Juampi.

E nós somos gratos por tudo o que fez por nosso manto em campo e fora dele!

Vida longa ao Pássaro Azul!

Fotos: Mais Minas / O Tempo / Superesportes

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