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Há 25 anos: um Cruzeiro assombroso

A Copa do Brasil de 1996 reuniu 40 times, num tempo de outras regras.

Participavam campeão e vice estadual, mais alguns poucos convidados.

Com menos times, a qualidade era maior.

Havia o Flamengo de Mancuso, Romário e Sávio.

O Vasco com Carlos Germano, Zinho e Nilson.

O Corinthians de Marcelinho Carioca que agora tinha a companhia de Edmundo.

O Botafogo de Túlio, o ótimo Grêmio de Paulo Nunes, Jardel e cia.

E havia dois times que merecem citação por parte do Cruzeiro.

O São Paulo de Zetti e Muller tinha também Belleti e Serginho, trocados há pouco na famosa troca de 5 por 2, quando vieram para cá Vitor, Gilmar, Donizete, Palhinha e Ailton.

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E havia o Palmeiras.

O Super Palmeiras com aporte da Parmalat.

Com Veloso, Cafu, Júnior, Amaral, Djalminha, Luizão e Rivaldo, o Palestra Paulista era o time a ser batido em qualquer jogo dentro e fora do Brasil.

O time treinado por Luxemburgo jogava por música e era visto como imbatível especialmente pela imprensa esportiva do Rio e, óbvio, de São Paulo.

O Cruzeiro iniciou sua campanha num frustrante empate com o Juventus do Acre em 1-1, na capital Rio Branco.

Havia sempre o jogo de volta, e o Cruzeiro não perdoou: 4-0.

Já separados 16 times, veio a primeira pedreira: o Vasco.

Mas logo no jogo de ida, no Rio, nosso time bem treinado por Levir Culpi não deixou dúvidas a que viera ao torneio.

Um sonoro 6-2 em pleno São Januário em partida memorável do meia Uéslei, melhor homem em campo.

Ele que abriu o placar logo aos 2 minutos de jogo.

Sem errar, rodando, colocando o Vasco no baile, o segundo gol veio já aos 11 minutos: cruzamento de Uéslei, gol do bom zagueiro Gélson Baresi.

O Vasco diminuiu numa falha da arbitragem, em lance de falta para o Cruzeiro em que todo mundo parou mas o jogo seguiu, já na parte final do primeiro tempo.

Mas na volta do intervalo as coisas se colocariam de novo no rumo inicial.

Gol de Roberto Gaúcho aos 4 minutos, numa linda jogada de Ricardinho.

Desespero cruzmaltino e novo gol azul: Roberto Gaúcho aos 10 minutos.

Na Tv, um torcedor do Vasco chorando colado ao alambrado. Outros indo embora de SãoJanu!

E em campo, gol do Cruzeiro: gol de Palhinha.

Zinho diminuiu aos 28 minutos, mas nessa altura Levir já poupava Marcelo e Palhinha para o jogo de volta. Ainda assim teve tempo de fechar a tampa: Edmundo, o nosso, marcou o sexto gol.

Na volta, um calmo 1-1 garantiu o Cruzeiro nas Quartas de final.

Próximo adversário: o Corinthians.

Na ida, Levir escalou (numa rara vez) Fabinho e Ricardinho juntos sem imaginar que montava ali uma dupla histórica.

Deu assim um nó no técnico paulista: nosso querido ídolo Eduardo Amorim.

O jogo no Independência iniciou equilibrado, com boa chance perdida por Palhinha, e outra por Marcelinho Carioca que bateu falta na trave.

Mas no final do primeiro tempo, um lance mudou o rumo do jogo e da classificação.

Palhinha roubou a bola do volante Marcelinho Paulista e puxaria o contra-ataque se não fosse parado pelo próprio volante. Segundo amarelo, expulsão, 11 contra 10 por toda a etapa final.

Aí o jogo virou um pesadelo para o então campeão da Copa.

Aos 17 minutos Palhinha chutou e o goleiro Maurício, herói até então, pegou de novo. Mas no rebote Nonato chutou de direita, com raiva, e abriu a porteira.

Aos 27, em bate-rebate na área, Marcelo cabeceou na trave, mas na volta Célio Lúcio conferiu.

Mas vaga veio mesmo no finalzinho.

Aos 43 minutos, Cleisson escorou escanteio e fez 3-0.

E Palhinha fez o quarto aos 45 minutos.

O jogo no Pacaembu foi mera formalidade.

Vitória do Corinthians por 3-2 e defesa de pênalti de Dida em chute de Marcelinho Carioca.

Veio a semifinal.

O Flamengo tinha no ataque o sempre perigoso Marques, o excelente Sávio, xodó rubro-negro, e nada menos que Romário.

Na ida no Maracanã Dida começaria a fazer a diferença.

Fez no mínimo cinco defesas difíceis e parou o ataque flamenguista o quanto pôde.

Só não parou Sávio num chute forte e rasteiro depois de enganar três marcadores.

Mas o Cruzeiro não era fraco.

Ameaçou com Uéslei, perdeu gol feito com Marcelo, e empatou com Cleisson já no segundo tempo, em boa jogada de Edmundo.

Havia ali o gol qualificado, o que então se configurara em vantagem celeste para a volta.

Um 0-0 no Mineirão bastaria para nos classificarmos à nossa segunda final.

A linda festa não foi coroada com gols; um jogo truncado demais e com poucas chances reais.

Mas amarrado o suficiente para levar o Cruzeiro à final.

Para a imprensa, já sairia da outra semifinal o virtual campeão.

O jogo era Palmeiras e Grêmio, os grandes papões da época.

Deu Palmeiras.

Era a final do Super Porco contra um Cruzeiro copeiro, raçudo e bem arrumado.

A ida foi no Mineirão.

Palmeiras massacrante no primeiro tempo.

Dida milagroso.

Menos no torpedo enviado do meio da rua pelo zagueiro Cláudio em cobrança de falta.

Já no segundo tempo, com Roberto Gaúcho em campo, o Cruzeiro atacou.

Foi dos pés dele, quentes demais em decisões, que o Cruzeiro empatou.

Boa jogada, excelente cruzamento que achou Marcelo Ramos na pequena área.

Fuzilou de cabeça para empatar e dar números finais ao primeiro jogo.

O problema era a volta.

Jogar no Parque Antártica seria complicado.

Sair para o jogo indicaria defesa semi-aberta para Djalminha, Rivaldo e Luizão.

Trancar e esperar indicaria um bombardeio sem fim.

Precisávamos de algo mais.

Quem então jogou?

Raça, demais!

Camisa, muita!

E Dida!

Não sem drama, porém.

Eram apenas cinco minutos quando Djalminha desmontou nossa defesa com um passe suspenso de calcanhar. Rivaldo avançou e cruzou; Luizão guardou.

Palmeiras 1-0 e festa antecipada.

Certo?

Não tão fácil.

Nosso time tinha muito brio, muita vergonha na cara, e resolveu atacar.

Assim conseguiu um escanteio.

Num lance fortuito em que parecia dar tudo errado, Roberto Gaúcho furou.

Palhinha também.

Mas Amaral também.

E o mesmo Roberto Gaúcho retomou paralelo à linha de fundo, invadiu a área a fuzilou Velloso.

1-1, intervalo de decisão empatada.

Aí Dida virou um monstro.

E numa das maiores atuações individuais que vi de um goleiro, Dida fez defesas que pareciam impossíveis e minou a paciência de todos os palmeirenses, em campo e na arquibancada.

Defendeu falta de Djalminha.

Depois realizou um milagre numa pancada cara a cara do mesmo camisa 10.

Salvou com os pés finalização de Reinaldo na pequena área.

Pegou também finalização à queima-roupa de Luizão.

Não há bom cruzeirense que não se lembre do narrador Sílvio Luiz gritando ‘milagre, milagre, milagre! Dida de novo!’.

Vale relevar também que nada menos que três lances que passaram pela nossa muralha foram parados em cima da linha por Gelson, Fabinho e Célio Lúcio.

Um verdadeiro bombardeio.

Da nossa parte, quase um gol antológico de Palhinha por cobertura e não muito mais.

E assim, entre milagres de Dida e jogo encaminhando para os pênaltis seguia a partida.

Até que o Cruzeiro recuperou uma bola no meio de campo.

Roberto Gaúcho foi lançado na esquerda e carregou o quanto pôde.

Dali saiu um cruzamento meio torto mas cheio de veneno que Velloso não encaixou.

Soltou e ali estava o sempre atento Flecha.

Marcelo Ramos dividiu e marcou o gol da virada.

2-1 Cruzeiro e silêncio no Parque Antártica.

Ali acabou moralmente o jogo.

O Palmeiras teria pouco tempo para marcar dois gole e virar novamente o jogo.

Não deu!

Esse jogo completou 25 anos no último final de semana.

Uma conquista que nos levou à Libertadores de 97 (e ao bicampeonato continental), e que coroou uma geração brilhante de Dida, Gelson, Celio Lucio, Nonato, Fabinho, Ricardinho, Cleisson, Palhinha, Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos.

Uma geração de brio, de raça, que não se intimidava e que honrou verdadeiramente as páginas heroicas imortais!

Fotos: O Tempo / Globo Esporte / Globo Esporte

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