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O time do povo num campo de terra

Salve Nação Celeste!!!

Outros tempos.

O calendário nacional era bem diferente do atual.

O campeonato estadual tinha importância para os clubes, e durava de Julho a Dezembro.

Já o Campeonato Nacional era inchado demais para agradar politicamente a todas as federações. Em 79, por exemplo, o Brasileirão teve 94 equipes.

Para tal, óbvio, o campeonato era dividido em grupos.

Isso fazia com que os times eliminados nas primeiras fases ficassem ociosos por certo tempo até que se iniciassem os estaduais.

O time parado, para não perder ritmo nem dinheiro, se aventurava nas mais loucas excursões Brasil e Mundo afora, buscando reforçar caixa e seguir na ativa.

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Voltemos então a 1983.

O Cruzeiro do técnico Orlando Fantoni não vivia lá uma maravilhosa fase técnica.

Jogou a então Taça de Ouro sem muito sofrer, mas também sem brilho.

Perdeu pouco, só três partidas, mas foi goleado pelo Santos e pelo Náutico e na classificação dos grupos acabou encerrando sua participação em 03 de Abril.

Assim seriam longos três meses sem jogar. Então, vamos de amistosos.

Após dois jogos sem valer ainda em Abril, o clube deu um período de folga aos jogadores em Maio mas foi excursionar pelas Américas em Junho, totalizando 7 amistosos no mês, com 5 vitórias e 2 empates.

Os três primeiros jogos foram na Colômbia: vitória sobre o Millonarios, empates contra o Santa Fé e a Seleção Colombiana.

Até aí, tudo bem.

Só que veio o quarto jogo, marcado para Curaçao.

Curaçao é uma pequena ilha que fica logo acima da Venezuela, de colonização holandesa e que tem, atualmente, cerca de 160.000 habitantes.

Imagina isso então há 30 anos…

Pois foi lá na capital Willemstad que o Cruzeiro foi jogar em 14 de Junho de 1983.

O jogo fora marcado para apenas quatro dias após o jogo contra a seleção da Colômbia.

Não havia tempo de fazer o reconhecimento de gramado e o único treinamento antes do jogo foi realizado no hotel.

Foram para o jogo, num complexo esportivo chamado Korsou e… surpresa!

No local não havia um campo gramado.

Havia um campo de terra batida, daqueles de pelada, e em tamanho reduzido.

Os jogadores do Cruzeiro, por exemplo, teriam que jogar mesmo com suas chuteiras de trava.

Parar em pé era um dos desafios.

Entender o tempo e o quicar da bola, outro.

E adaptar um 11 contra 11 num campo de fut-7, o pior deles.

A vantagem é que se tratava de um time malandro, com jogadores veteranos como Palhinha e Joãozinho, mesclado com jovens pelo menos espertos, como Mauro Madureira, Tostão e Edmar.

Controlada toda a dificuldade inicial, o lateral Luiz Cosme abriu o placar de pênalti aos 25 minutos do primeiro tempo.

A Seleção local era quase amadora, formada num todo por trabalhadores comuns que se encontravam de vez em quando para jogar bola.

O segundo gol não demorou a sair, marcado por Edmar aos 32 minutos de jogo.

Na última volta do ponteiro do tempo inicial, Carlinhos anotou o terceiro.

Mas na volta do intervalo, os caras voltaram com sangue nos olhos e diminuíram com Zandor logo aos dois minutos.

Tiveram a chance de marcar outro em seguida, mas Joãozinho tratou de recolocar as coisas no lugar e marcou 4-1 aos 9 minutos.

Aos 31, Hiansen anotou mais um gol para o time local, mas o centroavante Edmar deu números finais à peleja (ou pelada) já no final do jogo: Cruzeiro 5-2 Curaçao.

Para nunca mais voltar lá.

Ainda depois o Cruzeiro foi jogar em Honduras, goleando os times do Olimpia e do FAZ (com quatro gols de Tostão nesse jogo), e uma sim boa e convincente goleada sobre a Seleção de Honduras por 4-1.

A Seleção de Honduras disputou a Copa do Mundo da Espanha um ano antes, empatando seus jogos contra a Irlanda e a Espanha, mas perdeu para o Cruzeiro com gols de Eduardo, Carlinhos e dois do bom centroavante Edmar.

Dez dias depois, em 05 de Julho, já estávamos em campo, no Mineirão, para a primeira rodada do campeonato mineiro.

Assim era a vida dos times em tempos de brasileirão lotado e pouca grana em caixa.

Aventuras do verdadeiro time do povo.

Fotos: Uol / Terceiro Tempo / Gazetapress

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